sábado, 18 de junho de 2011

Cap VI - Capital Constante e Capital Variável (p. 224 a 236)

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Neste capítulo, Marx investiga a dualidade do trabalho e a consequente dualidade dos resultados do trabalho. Devido à sua propriedade abstrata, como dispêndio de força de trabalho humana, o trabalho agrega novo valor aos valores dos elementos do processo de trabalho (os meios de produção). Devido à sua propriedade concreta, específica, útil, o trabalho media a transferência do valor dos meios de produção ao produto final, que incorpora tal valor. Logo, o trabalho conserva valores e cria valores; realiza, ao mesmo tempo, dois processos diferentes. Considerando tais características, percebe-se que o capital adiantado pelo capitalista é transformado em capital de caráter diverso, de papéis diferentes no processo de trabalho. Uma parte do capital, convertida em meios de produção, como máquinas e matérias-primas, conserva valor, e por isso é chamado de Capital Constante. Outra parte do capital, convertida em Força de Trabalho, cria valor (podendo criar mais ou menos valor, variando conforme as horas trabalhadas que excedem o valor do próprio trabalho) com os movimentos que realiza na produção; por isso, é chamado de Capital Variável.  
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CAPITAL CONSTANTE E CAPITAL VARIÁVEL

Os diferentes fatores do processo de trabalho tomam parte de diferentes modos na formação do valor do produto.

O trabalhador acrescenta novo valor ao objeto do trabalho, ao acrescentar determinada quantidade de trabalho, abstraindo o conteúdo determinado, a finalidade e o caráter técnico do trabalho.

Por outro lado, os valores dos meios de produção consumidos reaparecem como partes integrantes do valor do produto (por exemplo, os valores de leite, cacau e máquinas no valor do chocolate). O valor dos meios de produção conserva-se pela sua transferência ao produto final, que ocorre durante a transformação dos meios de produção em produto, no processo de trabalho. Isso é realizado através do trabalho.

O trabalhador, ao mesmo tempo, agrega valor ao produto final e conservar seu valor anterior, que conta nos elementos constituintes do processo de trabalho. Assim, pelo mero acréscimo de novo valor conserva o valor antigo. Esses são dois resultados totalmente diferentes que o trabalhador alcança ao mesmo tempo. Por isso, essa circunstância configura uma dualidade de resultado, que se explica pela dualidade de seu próprio trabalho.

1) Por um lado, o trabalhador agrega tempo de trabalho e, portanto, valor sob a forma de seu modo peculiar de trabalho produtivo. Um trabalhador profissional em seu ofício trabalha mediante forma orientada a um fim, realizando um trabalho útil. Agrega, porém,  trabalho em geral, abstrato, Por isso, agrega novo valor.

2) Analisando o tempo de trabalho acumulado, sabe-se que o tempo de trabalho necessário para a produção de valor de uso então consumido no processo de trabalho é parte do tempo de trabalho necessário para a produção do novo valor de uso. Portanto, o tempo de trabalho é transferido no processo. O trabalhador conserva os valores dos meios de produção gastos transferindo-os, e agora são componentes do valor do produto final. Isso acontece pelo caráter particularmente útil do trabalho, pois a atividade produtiva, adequada a um fim, revive os meios de produção, mortos, para serem elementos do processo de trabalho.

Assim, em virtude de sua propriedade abstrata, geral, como dispêndio de força de trabalho humana, o trabalho agrega novo valor aos valores dos elementos do processo de trabalho. Em virtude de sua propriedade concreta, específica, útil, transfere o valor desses meios de produção ao produto e recebe assim seu valor no produto.

A propriedade em virtude da qual o trabalho conserva valores é essencialmente diferente da propriedade em virtude da qual ele cria valores.

Quanto mais tempo de trabalho necessário é absorvido durante a operação pela mesma quantidade de objeto de trabalho, tanto maior é o novo valor agregado. Quanto mais rápido é realizada a atividade no mesmo tempo de trabalho, tanto maior é o valor antigo conservado no produto. Logo, a transferência pode ser alterada conforme a produtividade, conforme os meios de trabalho se tornem mais caros ou mais baratos, ou de acordo com as condições técnicas do processo.

O valor conservado no produto se mantém em razão direta ao novo valor que é agregado. Sob condições dadas imutáveis de produção, o trabalhador conserva tanto mais valor quanto mais valor agrega, mas não conserva mais valor porque agrega mais valor, mas por agregá-lo sob condições invariáveis e independentes de seu próprio trabalho.

Valor existe apenas num valor de uso, numa coisa. Os meios de produção, no processo de trabalho, perdem a figura inicial de seu valor-de-uso para ganhar no produto final a figura de outro valor de uso.  No processo de trabalho, só se transfere valor do meio de produção ao produto (valor-de-uso em consumo) ao passo em que o meio de produção também perde valor de troca.

Esse processo configura na vida útil do produto, o quanto determinada mercadoria dura EM MÉDIA. O cálculo dessa perda corresponde à depreciação dos meios de trabalho, o valor que diariamente é repassado ao produto no consumo do elemento de trabalho. Isso demonstra que um meio de produção nunca transfere mais valor ao produto do que perde no processo de trabalho, quando consumido.

Vale lembrar que mesmo o desperdício no processo de trabalho pode fazer parte do mesmo e não ocasionar em perda do valor. Pode ser uma condição da produção. Isso vale para todos os excrementos do processo de trabalho.

O trabalhador tem de agregar o trabalho sempre sob uma forma útil, mas não pode agregá-lo em forma útil sem fazer de produtos meios de produção de um novo produto e, com isso, transferir seu valor ao novo produto. É um dom natural  gratuito da força de trabalho em ação, do trabalho vivo, conservar valor ao agregar valor, o que rende muito ao capitalista.

O que é consumido dos meios de produção é seu valor de uso, o consumo do qual o trabalho forma produtos. Seu valor não é consumido, nem pode, portanto, ser reproduzido. Ele é conservado, pois o valor de uso desaparece nele mesmo e reaparece no valor do produto final.

Cada momento do movimento do trabalho, no entanto, cria valor adicional, novo valor, que surgiu de dentro desse processo, a única parte de valor do produto que é produzida pelo próprio processo. A força de trabalho, em sua realização, reproduz seu próprio valor e um valor excedente, mais-valia que forma o excedente do valor do produto sobre o valor dos constituintes consumidos do produto.

Caracterizamos as funções das diferentes partes componentes do capital no processo de valorização. O excedente do valor total do produto final sobre a soma dos valores de seus elementos constituintes é o excedente do capital valorizado sobre o valor do capital originalmente adiantado. Meios de produção, de um lado, e força de trabalho, do outro, são as diferentes formas de existência que o valor do capital originário assumiu quando se transformou de dinheiro em fatores do processo de trabalho.

A parte do capital que se converte em meios de produção não altera a grandeza de valor no processo de produção.  É a parte constante do capital ou capital constante.

A parte do capital convertida em força de trabalho muda seu valor no processo de produção. Ela reproduz seu próprio equivalente e produz um excedente que pode variar, ser maior ou menor. Essa parte do capital transforma-se de grandeza constante (devido ao valor da força de trabalho pago) em grandeza variável (devido ao que ela gera). É a parte variável do capital ou capital variável.

O conceito do capital constante não exclui uma transformação do valor de suas partes componentes, mas as alterações que ocorrem para que isso aconteça não está no processo de trabalho em que a mercadoria é um elemento constitutivo.

Quando as condições técnicas do processo de trabalho evoluem e demandam menos meios de produção e força de trabalho, altera-se apenas a proporção em que o capital total se decompõe em componentes constantes e variáveis, mas não altera a diferença entre os dois.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Cap V - Processo de Trabalho e Processo de Produzir Mais Valia/ Item 2 (p. 210 a 223)

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No item 2 do Cap. V, lembramos que o capitalista produz porque deseja ganhar um valor maior que do que o que ele investiu na produção de uma mercadoria. Para isso, é fundamental calcular o valor do produto, levando em conta o valor dos objetos trabalhados no processo. Ao acumular jornadas, tempo de trabalho, o produto final possui um valor excedente (mais-valia), proporcionado pela força de trabalho, que executa sua capacidade mediante o pagamento do valor dos meios necessários para sua subsistência, apesar de trabalhar mais que o necessário para viver. O tempo de trabalho, para gerar mais-valia, tem de estar de acordo com o socialmente estabelecido, executado sem desperdiçar material e meios de produção. Marx demonstra que esse processo, o processo de valorização, não é nada mais que o processo de formação de valor prolongado além do ponto em que o valor da força de trabalho pago pelo capital é substituído por um equivalente. Quando passa desse ponto, torna-se em um processo de produzir mais-valia.
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2. O PROCESSO DE PRODUZIR MAIS-VALIA

O produto — a propriedade do capitalista — é um valor de uso. Esse valor de uso não é, de modo algum, algo feito por paixão a ele mesmo, mas porque é portador do valor de troca, produzido com dois objetivos: 1) quer produzir um valor de uso que tenha um valor de troca, uma mercadoria; 2) quer produzir uma mercadoria de valor mais alto que a soma dos valores das mercadorias exigidas para produzi-la (os meios de produção e a força de trabalho), pelas quais adiantou dinheiro no mercado. Assim, o capitalista quer produzir valor de uso, valor e mais-valia.

Como a própria mercadoria é unidade de valor de uso e valor, seu processo de produção tem de ser unidade de processo de trabalho e processo de formação de valor. Nesse processo, agora tratado simultaneamente, faz-se necessário calcular o trabalho materializado no resultado do produto.

No preço de um objeto A que, trabalhado, resultou num produto acabado B, já existe o trabalho exigido para sua produção. O tempo de trabalho exigido para a produção de B é parte do tempo de trabalho exigido para a produção de A, matéria-prima contida no produto acabado A.

Na medida em que o tempo de trabalho exigido para produção é considerado, os diferentes processos particulares de trabalho separados no tempo e no espaço podem ser considerados como fases sucessivas do mesmo processo de trabalho.

Todo o trabalho contido no objeto de trabalho que serve de matéria-prima em outro processo é trabalho passado. Pode se considerar o tempo de trabalho contido no material de trabalho e nos meios de trabalho como se tivesse sido gasto numa fase anterior do processo de trabalho, antes do trabalho finalmente acrescentado.

Assim, os valores dos meios de produção formam partes integrantes do valor do produto. Só duas condições têm de ser preenchidas. 1) os objetos de trabalho devem ter servido à produção de um valor de uso, que carrega valor; 2) pressupõe-se que apenas o tempo de trabalho necessário, o trabalho médio social da produção, foi aplicado.

Na medida em que o trabalho é formador de valor, não se distingue em nada de qualquer outro trabalho específico. Devido a essa identidade que um processo de trabalho como, por exemplo, plantar algodão, fazer fusos e fiar, podem formar partes quantitativamente diferentes do mesmo valor total, no caso, do valor total do fio. Logo, não se trata da qualidade ou natureza específica do trabalho, mas apenas de sua quantidade.

Para calcular esse trabalho, pressupõe-se que ele é trabalho simples, trabalho social médio. 1 hora de trabalho é gasto da força vital do trabalhador durante 1 hora, objetivado no produto.

Conclui-se que, no processo sob o ponto de vista da formação de mais-valia, a matéria-prima funciona como algo que absorve determinada quantidade de trabalho. Por meio dessa absorção, transforma-se, de fato, em produto final, que mede agora apenas o trabalho absorvido pelo objeto de trabalho.

Agora, determinadas quantidades de produto representam nada mais que determinadas quantidades de trabalho, massa de tempo de trabalho solidificado. Somente materializam X horas ou Y dias de trabalho social.

Analisando a dinâmica do processo de valorização de perto, temos:
O valor diário da força de trabalho é de 3 reais, objetivada meia jornada de trabalho, o que significa que os meios de subsistência necessários para produzir, por dia, a força de trabalho custam meia jornada de trabalho. Mesmo que apenas meia jornada seja necessária para mantê-lo vivo por um dia, isso não impede o trabalhador de trabalhar uma jornada inteira.

A manutenção (ou trabalho passado) que a força de trabalho contém, e seu gasto diário (ou trabalho vivo) que ela pode prestar são duas grandezas diferentes. A primeira determina seu valor de troca, a outra forma seu valor de uso.

Pode-se concluir, portanto, que o valor da força de trabalho e sua valorização no processo de trabalho são distintos, fato que o capitalista sabe ao comprar a força de trabalho. Sua propriedade útil era apenas uma condição para tal, pois o trabalho para criar valor tem de ser despendido em forma útil. E o valor de uso específico dessa mercadoria é fonte de valor, e de mais valor do que ela mesma tem.

O vendedor da força de trabalho, como o vendedor de qualquer outra mercadoria, realiza seu valor de troca e aliena seu valor de uso, agora pertencente ao comprador. Este paga o valor de meia jornada de trabalho para manter diariamente a força de trabalho. Acontece que ela consegue operar por uma jornada inteira, e, por isso, o valor que sua utilização cria durante um dia é o dobro de seu próprio valor de um dia. Ainda que essa dinâmica configure uma vantagem ao capitalista, ele não comete uma injustiça contra o vendedor da força de trabalho, pois paga o suficiente para a subsistência do trabalhador.

O capitalista projeta que seu trabalhador interaja com meios de produção necessários para um processo de trabalho de uma jornada integral, não de metade. Ao fim do processo de trabalho, estarão objetivadas mais de uma jornada de trabalho: as dos objetos de trabalho (matérias-primas ou produtos transformados no processo) e a absorvida pelo produto final.

A fim de ilustrar a dinâmica, consideremos 2 horas de trabalho = 1 reais ou 6 horas de trabalho = 3 reais. Consideremos também uma jornada de trabalho de 12 horas. Duas mercadorias, A e B, foram produzidas em 2 jornadas, cada uma, somando, portanto, 4 jornadas = 48 horas (4x12) = 24 reais. O capitalista, para produzir a mercadoria C, compra os bens A e B e força de trabalho por 1 dia, pagando o valor que ela custa no mercado: 3 reais ou meia jornada, que é o valor necessário para sua subsistência por 1 dia.  Gasta, portanto, 27 reais. O processo de trabalho para produzir C leva uma jornada, 12 horas. Logo, o produto C incorpora as jornadas de A e B, 48 horas, mais a jornada do processo mais recente, 12 horas, somando 60 horas = 30 reais. Surgiram do processo 3 reais excedentes, a mais-valia.

Vê, então, que o desejo do capitalista se realizou. O dinheiro que ele adiantou se transformou em Capital.

Todo esse seguimento, a transformação de seu dinheiro em capital, se opera na esfera da circulação e não se opera nela. Por meio da circulação por ser condicionado pela compra da força de trabalho no mercado. Fora da circulação, pois ela apenas introduz o processo de valorização, que ocorre na produção.

Ao converter dinheiro em mercadorias que servem de objeto de um novo processo de trabalho, incorpora-se força de trabalho viva à objetividade morta em capital (trabalho morto ou trabalho passado) e, por isso, o valor do trabalho morto se amplia.  Logo, o processo de valorização não é nada mais que um processo de formação de valor prolongado além do ponto em que o valor da força de trabalho pago pelo capital é substituído por um equivalente.

O trabalho, seja contido nos meios de produção, seja acrescido a eles pela força de trabalho, somente conta por sua duração (horas, dias etc.) na medida em que o tempo gasto na produção do valor de uso é o socialmente necessário, o que a sociedade estabelece como médio. Um tempo excedente não geraria valor em dinheiro. Para evitar isso, o capitalista 1) deve garantir  estrutura para tal, equipar a produção com que o se estabelece socialmente; e  2) deve considerar o caráter normal da própria força de trabalho, um grau médio habitual de esforço. Além disso, o capitalista é vigilante para que material e meios de trabalho não sejam desperdiçados.

A diferença entre o trabalho criador de valor de uso e o trabalho criador de valor apresenta-se como diferentes aspectos do processo de produção.

Como unidade do processo de trabalho e processo de formação de valor, o processo de produção é processo de produção de mercadorias. Como unidade do processo de trabalho e processo de valorização, é processo de produção capitalista.

Não importa ao processo de criação de mais-valia se o trabalho apropriado pelo capitalista é simples, social médio ou mais complexo.  Nesta esfera, o trabalho que se considera superior é o que possui os custos mais elevados, que requer mais tempo de trabalho e, portanto, tem mais valor que a força de trabalho simples, gerando também valor mais elevado que os do trabalho simples. No entanto, esse trabalho superior tem de ser reduzido a trabalho social médio, (uma jornada de trabalho superior a X jornadas de trabalho simples).

No entanto, vale lembrar que, qualquer que seja a diferença entre o trabalho do engenheiro e do gari, a mais-valia é um excedente apenas quantitativo de trabalho.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Cap V - Processo de Trabalho e Processo de Produzir Mais Valia/ Item 1 (p. 201 a 210)

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Os elementos simples do processo de trabalho são a atividade orientada a um fim, (o trabalho), o(s) objeto(s) a ser(em) transformado(s) e os meios para isso. Marx expõe a particularidade da força de trabalho nesse processo. Considerada uma mercadoria no capitalismo, a força de trabalho é valor-de-uso que produz valor, sendo única devido a isso. No consumo dessa mercadoria, o trabalhador é controlado pelo proprietário de sua força de trabalho - o capitalista - no sentido de consumir objeto e meios de produção conforme gere valor, sem desperdício. O produto final é propriedade do capitalista. O processo de trabalho é um processo entre coisas que o capitalista comprou, entre suas propriedades.
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1. O PROCESSO DE TRABALHO OU O PROCESSO DE PRODUZIR VALORES DE USO
 
A utilização da força de trabalho é o próprio trabalho.

A representação da realização do trabalho em mercadorias é dada em/por valores de uso, em coisas que sirvam para satisfazer necessidades. Assim, a força de trabalho é valor de uso particular.
O trabalho é, antes de tudo, um processo entre o homem e a Natureza. Aquele põe em movimento as forças naturais de seu corpo, a fim de apropriar-se da matéria natural numa forma útil para sua própria vida. Para isso, desenvolve as potências então adormecidas.
Os elementos simples do processo de trabalho são a atividade orientada a um fim (o próprio trabalho), seu objeto (por exemplo: matéria-prima) e seus meios (por exemplo: ferramentas, terra, energia).
O meio de trabalho é uma coisa ou um complexo de coisas que o trabalhador coloca entre si mesmo e o objeto de trabalho. Serve como meio de dirigir de sua atividade sobre tal objeto. O uso e a criação de meios de trabalho, embora existam em germe em certas espécies de animais, caracterizam o processo de trabalho especificamente humano. Analisando os meios de trabalho, é possível distinguir épocas econômicas, pois são medidores do grau de desenvolvimento da força de trabalho e indicadores das condições sociais nas quais se trabalha.
No processo de trabalho, a atividade do homem realiza, mediante o meio instrumental de trabalho, uma transformação do objeto de trabalho, pretendida desde o princípio, orientada a um fim, planejada. O processo extingue-se no produto, um valor-de-uso. O trabalho está incorporado ao objeto trabalhado.
O produto, ainda que assim seja num determinado processo de trabalho, pode servir de meio de produção para um outro processo. Logo, produtos são resultados e, ao mesmo tempo, condições do processo de trabalho.
Como cada coisa possui muitas propriedades e, por isso, é capaz de diversas aplicações úteis, o mesmo produto pode constituir a matéria-prima de processos de trabalho muito diferentes. Além disso, o mesmo produto pode no mesmo processo de trabalho servir de meio de trabalho e de matéria-prima.
O fato de um valor de uso aparecer como matéria-prima, meio de trabalho ou produto, depende totalmente de sua função no processo de trabalho e da posição que nele ocupa.
O trabalho vivo tem a característica de transformar produtos de trabalho acabados e em valores de uso como elementos que garantem a existência do processo de trabalho, dando “vida” ao mesmo. O contato do produto com trabalho vivo é o único meio de conservar e realizar esses produtos de trabalho finalizados como valores de uso.
O trabalho gasta seus elementos materiais, seu objeto e seu meio. Esse consumo produtivo diferencia-se do consumo individual . Enquanto neste último os produtos servem como meios de subsistência do indivíduo vivo, no primeiro, servem como meios de subsistência do trabalho.
Após ter comprado no mercado todos os fatores necessários a um processo de trabalho (meios de produção e força de trabalho), o aspirante a capitalista faz o portador da força de trabalho, o trabalhador, consumir os meios de produção mediante seu trabalho.
A natureza geral do processo do trabalho não se altera por executá-lo o trabalhador para o capitalista, em vez de para si mesmo. A transformação do modo de produção mediante a subordinação do trabalho ao capital só ocorre mais tarde.
O processo de trabalho, em realização (quando a força de trabalho é consumida pelo capitalista) apresenta dois fenômenos particulares.
1) O capitalista tem controle sobre as atividades do trabalhador. Assim, o primeiro não deixa que o trabalhador desperdice matéria-prima e faz com que o instrumento de trabalho só seja consumido – e, portanto, destruído – na medida em que seu uso no trabalho necessite.
2) O resultado do trabalho, o produto,  é propriedade do capitalista, e não do trabalhador, que o produziu. O capitalista paga, por exemplo, o valor de um dia da força de trabalho. Logo, o consumo da capacidade de trabalho, uma mercadoria aos olhos do capitalista, pertence-lhe durante o dia. Ele compra a força de trabalho, que se realiza em contato com os meios de produção, incorporando trabalho aos seus elementos mortos constitutivos do produto. Assim, o processo de trabalho é um processo entre coisas que o capitalista comprou, entre suas propriedades.